O dia
mais uma vez amanheceu ensolarado. Planejamos sair bem cedo para não chegar a
noite em Puerto Maldonado. Eu já havia organizado a bagagem na noite anterior,
então era só tomar banho, café e partir. Só que não...
Aguardando mamis e papis terminarem de arrumar a bagagem para partirmos.
Essa mamãe tirou em casa, antes de viajarmos, testando meu casaco.
Nossos anjos acolhedores (os
donos do hotel) quando souberam que já iríamos partir foram nos dar toda
atenção servindo um maravilhoso café da manhã, ajudando com a bagagem, depois
teve a seção de tirar fotos e finalizamos com muitos agradecimentos, pois eles foram mais que
prestadores de serviço de hotelaria, foram verdadeiros familiares que nos
acolheram em seu estabelecimento.
O quarto, pequeno, mas acolhedor. Camas com colchões e travesseiros limpos e confortáveis.
frigobar, televisão e o banheiro, tudo de maravilhoso.
O hall, tudo muito organizado e bem decorado.
Nós e a Sra. Sônia.
Pingo e sua admiradora, a jovem Mary Carmen. Uma hóspede do hotel que conheceu o Pingo no dia que chegamos e se apaixonou por ele.
Sr. Abdeel, ajudando a carregar as malas para o carro. O hotel é toda essa construção. A porta de entrada é a pequena que ele está em frente. Vejam que não tem nenhuma placa indicativa de hotel.
Sr. Abdeel, Luiz e Sra. Sônia (ela é mãe dele)
Partimos às 9h30min. Mais uma vez
sentimos a sensação de quero mais ao deixar Cusco, ela é uma cidade encantadora
e parece ter um imã nos atraindo para ficar mais tempo por lá.
Pingo só observando a arrumação da bagagem e aguardando para partir.
Vamos que vamos, tem mais estrada pela frente.
Para os que não sabem, Cusco (em
espanhol Cuzco e em quíchua Qosqo ou Qusqu) significa umbigo do mundo e está a
uma atitude de 3.400m. Lendas atribuem sua fundação ao Inca Manco Capac no
século XI ou XII. Depois do fim do império, em 1532, o conquistador espanhol
Francisco Pizarro invadiu e saqueou a cidade. A maioria dos edifícios incas foi
arrasada pelos clérigos católicos com duplo objetivo de destruir a civilização
inca e construir com suas pedras e tijolos as novas igrejas cristãs e demais
edifícios. Portanto, a maioria dos edifícios construídos depois da conquista é
de influência espanhola com uma mistura de arquitetura inca.
Mais uma estátua de Pacha Cutec, existem várias na cidade e arredores.
Seguimos a rota traçada pelo google maps. O trânsito da cidade estava intenso e demoramos para pegar a Interoceânica Sur. Essa rodovia é considerada um dos projetos mais importantes de integração entre o Brasil e o Peru. Ela tem mais de 2,6 mil quilômetros entre Iñapari, na fronteira com o Brasil, e três pontos peruanos, San Juan, Matarani e Ilo. Em território brasileiro, a Rodovia Interoceânica, ou BR-364, está pavimentada desde a cidade de Assis Brasil no estado do Acre até o estado de São Paulo. No Peru corta a Floresta Amazônica e atinge na Cordilheira dos Andes altitudes superiores a 4.800m, passa por 51 povos indígenas peruanos, tem 207 pontes, custou quase 2 bilhões de dólares e foi construída pelas construtoras brasileiras Odebrecht, Andrade Gutierres e Queiroz Galvão.
Finalmente chegamos na Interoceânica Sur
Tijolos adobe muito usado na construção das casas e edifícios de cidades do Peru. Para os que não sabem, adobe é um material vernacular usado na construção civil. É considerado um dos antecedentes históricos do tijolo de barro e seu processo construtivo é uma forma rudimentar de alvenaria. São tijolos de terra crua, água e palha e algumas vezes outras fibras naturais, moldados em fôrmas por processo artesanal ou semi-industrial e secados ao sol. Foi utilizado em diversas partes do mundo, especialmente nas regiões quentes e secas. Contudo, com o advento da industrialização no século XIX, as técnicas em arquitetura de terra foram, aos poucos, sendo abandonadas.
A vida cotidiana mistura prédios modernos, com prédios em construção. Vejam o detalhe da senhora lavando roupas.
Assim trabalham os garis por lá. Ficam caminhando com saco e vassoura na mão, recolhendo e limpando a rua. Como a poeira é constante no ar, em decorrência das obras na rodovia, eles se protegem com lenço no rosto.
Abastecer antes de continuar.
Vejam os combustíveis disponíveis nessa parte do mundo.
Depois que pegamos a rodovia, no
Peru chamada de Carretera Sur, foi possível apreciar a beleza da estrada pela
qual havíamos passado durante à noite. Curtir esse trecho da estrada durante à luz do
dia foi maravilhoso. Nessa primeira parte da viagem foi possível curtir uma
paisagem com montanhas, vales, criação de gado, ovelhas, alpacas e lhamas. O
verde da gramínea, mesmo com aspecto de queimado pelo frio seco e gelado da
região predominava, adornada pelos lagos formados pelo desgelo da neve deixava
a paisagem bela. Contudo, falar da paisagem da Cordilheira dos Andes com uma
simples descrição das belezas é muito pouco. Só vendo ao vivo para ter a noção
exata.
Visão da paisagem do nosso percurso rodoviário.
O lago é formado pela água do desgelo da neve, por esse motivo ele tem uma cor azul intenso.
O verde, a água e as montanhas que parecem secas, mas estão coberta pela vegetação de estepe.
Visão de um dos mirantes que tem na estrada de onde se pode ver uma bela paisagem.
Um marco, não sei o que significa, pois não havia nada informando.
Uma linda vista.
No alto da cordilheira, quando
novamente atingimos a altitude máxima de 4.750m, a neve apareceu clara e limpa
ao longe. O sol refletia de forma tão forte na neve que quase ofusca a visão.
Nem é preciso falar dos cuidados extras que precisamos ter. Lá em cima o frio
era de cortar, agravado por um vento forte que congelava mãos, orelhas e nariz
nos poucos momentos que deixamos o carro e nos aventuramos em uma breve parada
para apreciar a beleza de um dos mirantes existentes na estrada.
Olha lá a neve, a neve, a neve!!!!
Olha a neve, a neve, a neve, ah e a família trabalhando na lavoura, preparando o solo para o plantio.
Mais neve e uma vila de casas
Novamente estávamos nós no ponto mais alto, 4.725m de altitude.
Nessa parada mais uma surpresa
nos esperava no meio do nada, sentadas ao sol, duas meninas, tipicamente
vestidas, simplesmente teciam uma ‘chalana’ (ou xale). Pareciam uma pintura de
um quadro, mas eram reais. Parei, perguntei se poderia fotografá-las. Com
sorriso estampado no rosto e muito envergonhadas, responderam afirmativamente.
Perguntei o nome delas, chamavam-se Yalina e Rubia e disseram que estavam ali
tecendo uma chalana e estavam no sol para o corpo ficar mais aquecido.
Yalina e Rubia, as duas meninas que estavam tecendo um chale, mais pareciam uma pintura de um quadro surreal.
Registros fotográficos feitos,
seguimos nossa viagem. Já eram 12h36min e tínhamos percorrido pouco mais de
120km dos 450km, quando passamos por um restaurante na estrada onde havia
vários carros parados. Ainda estávamos na parte alta da estrada, local que
certamente poderíamos encontrar boas trutas para comer com batatas. Paramos
para verificar se havia o sonhado cardápio para nos deliciarmos na despedida
daquela parte do mundo. Ao descermos do carro tivemos uma maravilhosa recepção
de dois simpáticos cães que abanavam vibrantemente o rabo, o que foi suficiente
para nos encher de alegria. Entramos no restaurante e, apesar de muito simples,
tinha o que queríamos (trucha dourada com papas) e apresentava muita higiene.
Não tivemos dúvidas, nosso almoço estava garantido. Ao final da refeição
tivemos a certeza que não poderia ser outro o local a parar e nos alimentarmos.
Nossa recepção ao pararmos no restaurante, ela não teve dúvidas, veio me receber no carro.
E eram dois, um mais lindo que outro
Trutas douradas com papas e milho. Olhem o tamanho do grão de milho. Comida maravilhosa. Detalhe, não tem talher para comer, todos comem com as mãos.
Luiz preferiu pedir talheres para comermos, mas éramos os únicos a usar os talheres.
Pingo e seu almoço, aqui ele está no comando 'espera', esperando que eu coloque a comida.
Depois do comando 'pronto' aí sim, ele começa a comer o papá dele, rsrsrs um lindo.
O restaurante Lá Casita Panorâmica, onde almoçamos.
Uma parada com muitos fregueses para comer trutas frescas e fritas.
Nós alegres e satisfeitos com um almoço maravilhoso e delicioso.
Continuando a viagem, novamente o fato pitoresco, que
já havíamos observado no percurso de ida, se repetia no percurso da volta, que era
a quantidade de cachorros deitados em diversos pontos do acostamento da rodovia.
Estavam lá como se estivessem esperando seus donos chegar de algum lugar. Parecem
cachorros ovelheiros e devem ajudar a tanger as ovelhas. Ao longo da rodovia
também se vê várias pessoas trabalhando. A primeira coisa que passa no
pensamento é o que estariam fazendo elas naquele terreno desértico, mas na
verdade toda aquela terra é local de plantio de várias culturas, dentre elas o
milho e a batata. Quando estivemos em setembro de 2008, vimos a cultura já
avançada, pois já estava na época da colheita, agora em julho observamos que estavam preparando o solo.
Olhem que coisa mais linda, dá vontade de parar o carro abrir a porta e levar para casa.
Vilarejo de casas e as pedras delimitam os locais de plantio.
Nesta foto fica bem definido a delimitação dos locais de plantio, o que até deixa a paisagem mais bela.
Seguimos, Luiz dirigindo e eu
fotografando. Minha vontade era de registrar cada metro da paisagem. Mas me
contentei em ir registrando enquanto o carro perdia velocidade nas inúmeras
curvas da estrada.
Não, isso não é uma apresentação de teatro, isso é a vida cotidiana de uma cidade peruana. Observem as roupas das mulheres.
Lá vai mais uma peruana caminhando. Olha a feira regional... Diminuir a velocidade, nem precisa, não dá para ir em velocidade muito superior a essa com tantas curvas.
Observem a vendedora de picolé. É uma mulher e está vestida com roupa típica. Eu acho isso muito bacana. Em todos os lugares a cultura ainda se mantém forte.
Um espetáculo da natureza.
Alpacas, lhamas, todas lindas.
E a vontade que dá de levar uma dessas para casa. Fofas!
Vejam as curvas como são..
Observem o trajeto da estrada, QUANTAS curvas...
E mais curvas.
Olha lá! Gente isso mais parece uma pintura de um quadro, mas não eu vi isso ao vivo e a cores. Que lindo cavalo!
E mais cavalos
Por toda região tem diversas placas dessas indicando haver um sítio arqueológico.
Mais peruanas.
As peruanas e o tuc tuc.
Em um trecho que estava em recuperação
tivemos que pegar um desvio, o qual nos levou para uma estrada de terra, que
para nossa alegria era parte da estrada antiga que ligava Cusco à Puerto
Maldonado, cuja largura só cabia um carro. Ficamos estarrecidos de tanta
alegria por percorrer o trecho histórico de tantos registro em vídeos e fotos que
vi pela internet ao longo dos anos em que eu apenas sonhava em viajar por
aquela estrada.
Lá ao longe, olhem o trecho da estrada que desmoronou e estão recuperando.
Quando passamos pela cidade de
Marcapata paramos para comprar batatas e milho, esses eram meus únicos desejo
de consumo, depois dos adornos de prata que comprei em Cusco. Sabíamos que essa
bagagem poderia ser barrada na fiscalização da fronteira, mas decidimos
arriscar e levar. Ainda compramos pipoca para comer e também uma fruta, que
eles chamam de pepino, para experimentar. Comemos a fruta, mas não gostamos muito, lembrava melão do mato. Depois fomos comer a pipoca pensando que era salgada. Só que não, era totalmente doce.
No Peru existe uma grande variedade de milhos, incluindo o conhecido milho roxo (maíz morado). Esse tipo de milho é muito duro para mastigar e por esse motivo é cozido em água para fazer a chincha morada. O resultado é uma bebida doce e refrescante com especiarias sutis que incluem o abacaxi, a canela e o cravo e é servida gelada.
A fruta chamada pepino
Pingo verificando se a bagagem está tudo ok e tomando conta para ninguém mexer.
Foi nessa barraquinha que compramos as batatas, milho e as frutas. Vejam o detalhe do avental da mulher que falei.
Olha ai o estabelecimento comercial chamado Samba.
Eu morta de feliz, achando que a pipoca era salgada...
Chegamos em Puerto Maldonado às
19h48min e fomos direto na Plaza de Armas para jantar no Burgo’s Restaurante
que tínhamos visto no dia que partimos dessa cidade para Cusco. O restaurante é
maravilhoso, ambiente super agradável e bonito. O sistema lá é você escolhe o
que quer comer, tipo, carne, ou peixe, ou porco etc. e no preço está incluso o
buffet com verduras, legumes, macarrão, arroz, queijos, etc etc os quais você pode se servir a vontade. Comida
maravilhosa que indico demais aos que forem lá.
Enfeite que havia em cima de todas as mesas do restaurante Burgo's. É uma flor chamada Bastão do Imperador. É uma espécie de gengibre com flores muito chamativas e vistosas. A folhagem é tipicamente tropical e a flor é atrativa para beija flores e insetos. As hastes do bastão-do-imperador podem alcançar de 2 a 6 metros de altura
Um drinque para comemorar nossa alegria.
O prato escolhido pelo Luiz, Lomo saltado ao molho de castanha do pará
Casal 20 aproveitando a maravilhosa culinária peruana.
Minha opção foi filé de peixe grelhado ao molho de carambola.
Alimentados e satisfeitos, fomos
para o Chimícuas House, a Sra. Rose estava nos esperando, pois no caminho eu
liguei para reservar hospedagem. Ela acabou nos colocando em um quarto maior
e melhor que aquele que havíamos ficado anteriormente. O motivo para variar
foi: “Assim o cachorrinho fica melhor acomodado.” Santo Pingo, que maravilha
viajar com você... rsrsrrsr
Delicadamente ornamentada a toalha em formato de cisne.
Fiquei no quarto organizando as
coisas e Luiz foi dar uma voltinha com Pingo na rua para que ele fizesse suas
necessidades antes de dormir. Quando voltaram ao quarto, Luiz
falou que o cachorro macho do hotel havia tentado morder o Pingo (no hotel
havia 3 cães, um macho e duas fêmeas). Detalhe, uma das fêmeas estava no cio e
o cachorro, que era bem feroz, viu o Pingo como um possível rival e não teve
dúvidas, partiu para cima dele.
Logo que entraram no quarto, a
primeira coisa que notei foi o mal cheiro de animal morto e, indignada,
esbravejei: “Credo, Luiz, o que é isso?!?!?!? O Pingo está podre a carniça!"
Então Luiz comentou que o cachorro havia atacado o Pingo e, certamente, devia
ter se esfregado em algum animal morto e quando encostou no Pingo passou o mal
cheiro. O mais engraçado era ver o Pingo se cheirando e fazendo cara feia.
Minha primeira atitude foi querer
dar um banho no Pingo, pois seria impossível ficar no mesmo quarto que ele com
aquele mal cheiro. Mas, Luiz, contestou: “Não, onde já se viu dar banho nele
numa hora dessas da noite, coitadinho! Passa um pano úmido que o cheiro sai.” Assim
fiz, peguei um pano que uso para limpar os pés dele, molhei e passei nele, mas
não adiantou, o mal cheiro continuava. Tive, então uma ideia, sempre viajo com
um frasco esborrifador contendo álcool para passar nos vasos sanitários. Peguei,
então, o frasco, borrifei álcool em todo o pelo dele e passei o pano úmido.
Solução perfeita, ficou totalmente sem cheiro de carniça. Fiquei tão indignada
com o mal cheiro e preocupada em eliminar o odor que nem me preocupei em olhar
se ele estava ferido.
Finalizado o procedimento de eliminação de odores, fomos
tomar banho e dormir.
DISTÂNCIA PERCORRIDA NO DIA 449 km em estrada asfaltada.
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