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Fortaleza, Ceará, Brazil
Nascida em Campinas SP e criada em Fortaleza CE. Amo viajar, meu principal hobby. Conhecer lugares e cultura é a melhor forma de crescermos espiritualmente. Sou casada com uma pessoa maravilhosa chamada Luiz Rodrigues, que curte comigo todas as viagens. Um trecho de livro que resume meu pensamento sobre vida e viagem: “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver". ("Mar sem fim"- Amyr Klink) AVISO: As postagens estão em ordem inversa, ou seja, do fim da viagem para o começo. Desta forma, observem a data informada e leiam do fim para o começo.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

14º Dia (31/07 – sexta) – de Cusco à Puerto Maldonado – via Estrada do Pacífico


O dia mais uma vez amanheceu ensolarado. Planejamos sair bem cedo para não chegar a noite em Puerto Maldonado. Eu já havia organizado a bagagem na noite anterior, então era só tomar banho, café e partir. Só que não...
 
 Aguardando mamis e papis terminarem de arrumar a bagagem para partirmos.

Essa mamãe tirou em casa, antes de viajarmos, testando meu casaco.
 
Nossos anjos acolhedores (os donos do hotel) quando souberam que já iríamos partir foram nos dar toda atenção servindo um maravilhoso café da manhã, ajudando com a bagagem, depois teve a seção de tirar fotos e finalizamos com muitos agradecimentos, pois eles foram mais que prestadores de serviço de hotelaria, foram verdadeiros familiares que nos acolheram em seu estabelecimento.
 
 O quarto, pequeno, mas acolhedor. Camas com colchões e travesseiros limpos e confortáveis.
 frigobar, televisão e o banheiro, tudo de maravilhoso.

O hall, tudo muito organizado e bem decorado.
 
 Nós e a Sra. Sônia.
 Pingo e sua admiradora, a jovem Mary Carmen. Uma hóspede do hotel que conheceu o Pingo no dia que chegamos e se apaixonou por ele.
 Sr. Abdeel, ajudando a carregar as malas para o carro. O hotel é toda essa construção. A porta de entrada é a pequena que ele está em frente. Vejam que não tem nenhuma placa indicativa de hotel.
Sr. Abdeel, Luiz e Sra. Sônia (ela é mãe dele)
 
Partimos às 9h30min. Mais uma vez sentimos a sensação de quero mais ao deixar Cusco, ela é uma cidade encantadora e parece ter um imã nos atraindo para ficar mais tempo por lá.

 

Pingo só observando a arrumação da bagagem e aguardando para partir.

Vamos que vamos, tem mais estrada pela frente.
 

Para os que não sabem, Cusco (em espanhol Cuzco e em quíchua Qosqo ou Qusqu) significa umbigo do mundo e está a uma atitude de 3.400m. Lendas atribuem sua fundação ao Inca Manco Capac no século XI ou XII. Depois do fim do império, em 1532, o conquistador espanhol Francisco Pizarro invadiu e saqueou a cidade. A maioria dos edifícios incas foi arrasada pelos clérigos católicos com duplo objetivo de destruir a civilização inca e construir com suas pedras e tijolos as novas igrejas cristãs e demais edifícios. Portanto, a maioria dos edifícios construídos depois da conquista é de influência espanhola com uma mistura de arquitetura inca.
 
 Mais uma estátua de Pacha Cutec, existem várias na cidade e arredores.
Seguimos a rota traçada pelo google maps. O trânsito da cidade estava intenso e demoramos para pegar a Interoceânica Sur. Essa rodovia é considerada um dos projetos mais importantes de integração entre o Brasil e o Peru. Ela tem mais de 2,6 mil quilômetros entre Iñapari, na fronteira com o Brasil, e três pontos peruanos, San Juan, Matarani e Ilo. Em território brasileiro, a Rodovia Interoceânica, ou BR-364, está pavimentada desde a cidade de Assis Brasil no estado do Acre até o estado de São Paulo. No Peru corta a Floresta Amazônica e atinge na Cordilheira dos Andes altitudes superiores a 4.800m, passa por 51 povos indígenas peruanos, tem 207 pontes, custou quase 2 bilhões de dólares e foi construída pelas construtoras brasileiras Odebrecht, Andrade Gutierres e Queiroz Galvão.
 

Finalmente chegamos na Interoceânica Sur
 
 Tijolos adobe muito usado na construção das casas e edifícios de cidades do Peru. Para os que não sabem, adobe é um material vernacular usado na construção civil. É considerado um dos antecedentes históricos do tijolo de barro e seu processo construtivo é uma forma rudimentar de alvenaria. São tijolos de terra crua, água e palha e algumas vezes outras fibras naturais, moldados em fôrmas por processo artesanal ou semi-industrial e secados ao sol. Foi utilizado em diversas partes do mundo, especialmente nas regiões quentes e secas. Contudo, com o advento da industrialização no século XIX, as técnicas em arquitetura de terra foram, aos poucos, sendo abandonadas.
 
 A vida cotidiana mistura prédios modernos, com prédios em construção. Vejam o detalhe da senhora lavando roupas.
 Assim trabalham os garis por lá. Ficam caminhando com saco e vassoura na mão, recolhendo e limpando a rua. Como a poeira é constante no ar, em decorrência das obras na rodovia, eles se protegem com lenço no rosto.
 Abastecer antes de continuar.
Vejam os combustíveis disponíveis nessa parte do mundo.


Depois que pegamos a rodovia, no Peru chamada de Carretera Sur, foi possível apreciar a beleza da estrada pela qual havíamos passado durante à noite. Curtir esse trecho da estrada durante à luz do dia foi maravilhoso. Nessa primeira parte da viagem foi possível curtir uma paisagem com montanhas, vales, criação de gado, ovelhas, alpacas e lhamas. O verde da gramínea, mesmo com aspecto de queimado pelo frio seco e gelado da região predominava, adornada pelos lagos formados pelo desgelo da neve deixava a paisagem bela. Contudo, falar da paisagem da Cordilheira dos Andes com uma simples descrição das belezas é muito pouco. Só vendo ao vivo para ter a noção exata.

 
 Visão da paisagem do nosso percurso rodoviário.
 O lago é formado pela água do desgelo da neve, por esse motivo ele tem uma cor azul intenso.
 O verde, a água e as montanhas que parecem secas, mas estão coberta pela vegetação de estepe.
 Visão de um dos mirantes que tem na estrada de onde se pode ver uma bela paisagem.
 Um marco, não sei o que significa, pois não havia nada informando.

Uma linda vista.
 

No alto da cordilheira, quando novamente atingimos a altitude máxima de 4.750m, a neve apareceu clara e limpa ao longe. O sol refletia de forma tão forte na neve que quase ofusca a visão. Nem é preciso falar dos cuidados extras que precisamos ter. Lá em cima o frio era de cortar, agravado por um vento forte que congelava mãos, orelhas e nariz nos poucos momentos que deixamos o carro e nos aventuramos em uma breve parada para apreciar a beleza de um dos mirantes existentes na estrada.
 
 Olha lá a neve, a neve, a neve!!!!
 Olha a neve, a neve, a neve, ah e a família trabalhando na lavoura, preparando o solo para o plantio.
 Mais neve e uma vila de casas

Novamente estávamos nós no ponto mais alto, 4.725m de altitude.
 

Nessa parada mais uma surpresa nos esperava no meio do nada, sentadas ao sol, duas meninas, tipicamente vestidas, simplesmente teciam uma ‘chalana’ (ou xale). Pareciam uma pintura de um quadro, mas eram reais. Parei, perguntei se poderia fotografá-las. Com sorriso estampado no rosto e muito envergonhadas, responderam afirmativamente. Perguntei o nome delas, chamavam-se Yalina e Rubia e disseram que estavam ali tecendo uma chalana e estavam no sol para o corpo ficar mais aquecido.
 

Yalina e Rubia, as duas meninas que estavam tecendo um chale, mais pareciam uma pintura de um quadro surreal.
 

Registros fotográficos feitos, seguimos nossa viagem. Já eram 12h36min e tínhamos percorrido pouco mais de 120km dos 450km, quando passamos por um restaurante na estrada onde havia vários carros parados. Ainda estávamos na parte alta da estrada, local que certamente poderíamos encontrar boas trutas para comer com batatas. Paramos para verificar se havia o sonhado cardápio para nos deliciarmos na despedida daquela parte do mundo. Ao descermos do carro tivemos uma maravilhosa recepção de dois simpáticos cães que abanavam vibrantemente o rabo, o que foi suficiente para nos encher de alegria. Entramos no restaurante e, apesar de muito simples, tinha o que queríamos (trucha dourada com papas) e apresentava muita higiene. Não tivemos dúvidas, nosso almoço estava garantido. Ao final da refeição tivemos a certeza que não poderia ser outro o local a parar e nos alimentarmos.


 Nossa recepção ao pararmos no restaurante, ela não teve dúvidas, veio me receber no carro.
 E eram dois, um mais lindo que outro
 Trutas douradas com papas e milho. Olhem o tamanho do grão de milho. Comida maravilhosa. Detalhe, não tem talher para comer, todos comem com as mãos.
 Luiz preferiu pedir talheres para comermos, mas éramos os únicos a usar os talheres.
 Pingo e seu almoço, aqui ele está no comando 'espera', esperando que eu coloque a comida.
 Depois do comando 'pronto' aí sim, ele começa a comer o papá dele, rsrsrs um lindo.
 O restaurante Lá Casita Panorâmica, onde almoçamos.
 Uma parada com muitos fregueses para comer trutas frescas e fritas.
 
Nós alegres e satisfeitos com um almoço maravilhoso e delicioso.

Continuando a viagem, novamente o fato pitoresco, que já havíamos observado no percurso de ida, se repetia no percurso da volta, que era a quantidade de cachorros deitados em diversos pontos do acostamento da rodovia. Estavam lá como se estivessem esperando seus donos chegar de algum lugar. Parecem cachorros ovelheiros e devem ajudar a tanger as ovelhas. Ao longo da rodovia também se vê várias pessoas trabalhando. A primeira coisa que passa no pensamento é o que estariam fazendo elas naquele terreno desértico, mas na verdade toda aquela terra é local de plantio de várias culturas, dentre elas o milho e a batata. Quando estivemos em setembro de 2008, vimos a cultura já avançada, pois já estava na época da colheita, agora em julho observamos que estavam preparando o solo.


Olhem que coisa mais linda, dá vontade de parar o carro abrir a porta e levar para casa.
 
 Vilarejo de casas e as pedras delimitam os locais de plantio.
Nesta foto fica bem definido a delimitação dos locais de plantio, o que até deixa a paisagem mais bela.
 

Seguimos, Luiz dirigindo e eu fotografando. Minha vontade era de registrar cada metro da paisagem. Mas me contentei em ir registrando enquanto o carro perdia velocidade nas inúmeras curvas da estrada.
 
 Não, isso não é uma apresentação de teatro, isso é a vida cotidiana de uma cidade peruana. Observem as roupas das mulheres.
 Lá vai mais uma peruana caminhando. Olha a feira regional... Diminuir a velocidade, nem precisa, não dá para ir em velocidade muito superior a essa com tantas curvas.
 Observem a vendedora de picolé. É uma mulher e está vestida com roupa típica. Eu acho isso muito bacana. Em todos os lugares a cultura ainda se mantém forte.
 Um espetáculo da natureza.
 Alpacas, lhamas, todas lindas.
 E a vontade que dá de levar uma dessas para casa. Fofas!
 Vejam as curvas como são..
 Observem o trajeto da estrada, QUANTAS curvas...
 E mais curvas.
 Olha lá! Gente isso mais parece uma pintura de um quadro, mas não eu vi isso ao vivo e a cores. Que lindo cavalo!
 E mais cavalos
Por toda região tem diversas placas dessas indicando haver um sítio arqueológico.
 Mais peruanas.

As peruanas e o tuc tuc.
 

Em um trecho que estava em recuperação tivemos que pegar um desvio, o qual nos levou para uma estrada de terra, que para nossa alegria era parte da estrada antiga que ligava Cusco à Puerto Maldonado, cuja largura só cabia um carro. Ficamos estarrecidos de tanta alegria por percorrer o trecho histórico de tantos registro em vídeos e fotos que vi pela internet ao longo dos anos em que eu apenas sonhava em viajar por aquela estrada.

 
 A antiga estrada de terra que ligava Puerto Maldonado a Cusco.


Lá ao longe, olhem o trecho da estrada que desmoronou e estão recuperando.
 

Quando passamos pela cidade de Marcapata paramos para comprar batatas e milho, esses eram meus únicos desejo de consumo, depois dos adornos de prata que comprei em Cusco. Sabíamos que essa bagagem poderia ser barrada na fiscalização da fronteira, mas decidimos arriscar e levar. Ainda compramos pipoca para comer e também uma fruta, que eles chamam de pepino, para experimentar. Comemos a fruta, mas não gostamos muito, lembrava melão do mato. Depois fomos comer a pipoca pensando que era salgada. Só que não, era totalmente doce.

 
 No Peru existe uma grande variedade de milhos, incluindo o conhecido milho roxo (maíz morado). Esse tipo de milho é muito duro para mastigar e por esse motivo é cozido em água para fazer a chincha morada. O resultado é uma bebida doce e refrescante com especiarias sutis que incluem o abacaxi, a canela e o cravo e é servida gelada.
 A fruta chamada pepino
 Pingo verificando se a bagagem está tudo ok e tomando conta para ninguém mexer.
 Foi nessa barraquinha que compramos as batatas, milho e as frutas. Vejam o detalhe do avental da mulher que falei.
 Olha ai o estabelecimento comercial chamado Samba.

Eu morta de feliz, achando que a pipoca era salgada...
 

Chegamos em Puerto Maldonado às 19h48min e fomos direto na Plaza de Armas para jantar no Burgo’s Restaurante que tínhamos visto no dia que partimos dessa cidade para Cusco. O restaurante é maravilhoso, ambiente super agradável e bonito. O sistema lá é você escolhe o que quer comer, tipo, carne, ou peixe, ou porco etc. e no preço está incluso o buffet com verduras, legumes, macarrão, arroz, queijos, etc etc os quais você pode se servir a vontade. Comida maravilhosa que indico demais aos que forem lá.
 
 Enfeite que havia em cima de todas as mesas do restaurante Burgo's. É uma flor chamada Bastão do Imperador. É uma espécie de gengibre com flores muito chamativas e vistosas. A folhagem é tipicamente tropical e a flor é atrativa para beija flores e insetos. As hastes do bastão-do-imperador podem alcançar de 2 a 6 metros de altura
 Um drinque para comemorar nossa alegria.
O prato escolhido pelo Luiz, Lomo saltado ao molho de castanha do pará
 

Casal 20 aproveitando a maravilhosa culinária peruana.
 

Minha opção foi filé de peixe grelhado ao molho de carambola.

Alimentados e satisfeitos, fomos para o Chimícuas House, a Sra. Rose estava nos esperando, pois no caminho eu liguei para reservar hospedagem. Ela acabou nos colocando em um quarto maior e melhor que aquele que havíamos ficado anteriormente. O motivo para variar foi: “Assim o cachorrinho fica melhor acomodado.” Santo Pingo, que maravilha viajar com você... rsrsrrsr

 

Delicadamente ornamentada a toalha em formato de cisne.
 

Fiquei no quarto organizando as coisas e Luiz foi dar uma voltinha com Pingo na rua para que ele fizesse suas necessidades antes de dormir. Quando voltaram ao quarto, Luiz falou que o cachorro macho do hotel havia tentado morder o Pingo (no hotel havia 3 cães, um macho e duas fêmeas). Detalhe, uma das fêmeas estava no cio e o cachorro, que era bem feroz, viu o Pingo como um possível rival e não teve dúvidas, partiu para cima dele.

Logo que entraram no quarto, a primeira coisa que notei foi o mal cheiro de animal morto e, indignada, esbravejei: “Credo, Luiz, o que é isso?!?!?!? O Pingo está podre a carniça!" Então Luiz comentou que o cachorro havia atacado o Pingo e, certamente, devia ter se esfregado em algum animal morto e quando encostou no Pingo passou o mal cheiro. O mais engraçado era ver o Pingo se cheirando e fazendo cara feia.

Minha primeira atitude foi querer dar um banho no Pingo, pois seria impossível ficar no mesmo quarto que ele com aquele mal cheiro. Mas, Luiz, contestou: “Não, onde já se viu dar banho nele numa hora dessas da noite, coitadinho! Passa um pano úmido que o cheiro sai.” Assim fiz, peguei um pano que uso para limpar os pés dele, molhei e passei nele, mas não adiantou, o mal cheiro continuava. Tive, então uma ideia, sempre viajo com um frasco esborrifador contendo álcool para passar nos vasos sanitários. Peguei, então, o frasco, borrifei álcool em todo o pelo dele e passei o pano úmido. Solução perfeita, ficou totalmente sem cheiro de carniça. Fiquei tão indignada com o mal cheiro e preocupada em eliminar o odor que nem me preocupei em olhar se ele estava ferido.

Finalizado o procedimento de eliminação de odores, fomos tomar banho e dormir.

DISTÂNCIA PERCORRIDA NO DIA 449 km em estrada asfaltada.

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