Pingo é Luiz na área de leitura do hotel. Olhem que graça o cachorrinho de enfeite.
Durante a caminhada com o Pingo, observei que, de fato, todas as ruas nas redondezas do hotel não possuíam nenhuma pavimentação, eram de terra batida. Havia muitos toc toc trafegando, além de motos e carros, formando quase um engarrafamento, o que provocava o levantamento de poeira em toda região. Várias pessoas e cachorros transitavam pela rua, o movimento era intenso. O que durante a chegada na noite anterior tinha parecido tenebroso, agora se mostrava agradável, pois a sensação era de estar num bairro típico de uma cidade de interior no Peru, vivenciando a vida como ela é naquele país.
O Hotel Chimicuas House
O entorno do hotel com suas ruas sem pavimento. Tirei bem cedinho antes de começar o intenso trânsito de veículos e pessoas.
Após a caminhada, fui tomar banho e arrumar as bagagens, era dia de guardar as bolsas com roupas de verão e pegar as duas malas que continham roupas de frio. Pedi para o Luiz pegar no carro as malas com roupas de frio, pois teríamos que vestir calças compridas e agasalhos, apesar do clima em Puerto Maldonado estar quente, pois a previsão era fazer muito frio na estrada e em Cusco. Essa operação demandou um certo tempo, tendo em vista que elas estavam mais ao fundo do bagageiro do carro. Mas tudo se resolveu com a paciência do Luiz e a ajuda do dono do hotel.
Concluída essa etapa, fomos tomar café da manhã. Esse procedimento nos hotéis tipicamente peruanos é diferente dos hotéis brasileiros. Lá você não se serve, você é servido, numa relação quase que familiar, realizado pelos próprios donos do hotel. O café foi farto. Para cada duas pessoas era servido: uma jarra de 800ml de suco de papaia, quatro pães peruanos (é redondo, parece uma broa, mas tem a consistência de pão), um pratinho com quadradinhos de manteiga, uma tigelinha de geleia de morango, um prato com ovos mexidos, na porção devia ter uns quatro ovos, um prato com 6 fatias finas de queijo tipo frescal, duas pequenas jarras de aproximadamente 150ml com um leite cremoso parecido com creme de leite, uma outra de aproximadamente 50ml com café, forte e frio e uma garrafa térmica com água quente. No Peru o café é servido dessa forma, eles fazem o café bem forte, na consistência de quase um mingau, e servem frio. Então, se adiciona água quente a gosto. Detalhe, o suco, os ovos mexidos etc são feitos na hora, conforme se chega para tomar café eles vão aprontado.
Durante o café da manhã conhecemos um grupo de brasileiros, de Camará do Sul (RS), que viajava em três carros e estava voltando de Cusco. O grupo era composto de um casal e dois filhos (de 6 e 12 anos), outro casal e dois filhos de 9 meses e 2 anos e mais um rapaz. Contaram que estavam adorando a viagem, que em Cusco fazia frio e havia turistas além do normal, pois além dos turistas estrangeiros, havia os peruanos por ser período de férias escolares e, também, era feriado comemorativo da independência do país. O grupo, assim como nós, não reservou hotel em Cusco, haviam tentado reservar no dia anterior, mas não conseguiram. Chegaram em Cusco, procuraram hotel até três horas da manhã e não encontraram, acabaram dormindo no carro e passaram muito frio, pois durante à noite a temperatura caiu para três graus. Informaram, ainda, que não tiveram problema nenhum com o diesel e que depois encontraram hotel em outra cidade e foram até Machu Pichu. Exceto quanto ao fator de não encontrar hospedagem, eles foram muito positivos e estavam felizes com o passeio, as crianças estavam vibrando, e ainda iam rodar por mais, aproximadamente, seis dias para chegar em casa. Com essa agora tínhamos dois pontos de vista, o negativo, da família que conhecemos em Rio Branco e o positivo desse grupo, de uma mesma experiência, que era se aventurar em Cusco sem ter hotel reservado.
Quando eles viram o Pingo se apaixonaram e quiseram tirar fotos com ele. A dona do hotel também quis tirar fotos dele para registrar seu primeiro hóspede de quatro patas. Feitos os registros e arrumado o carro com a bagagem, às 8h32min, seguimos viagem encapotados, ainda levamos uma sacola em local mais acessível no carro com roupas de frio adicionais.
Ih! Tinha tanta gente tirando fotos que esqueci de fazer nosso próprio registro. Que pena, na volta eu não esquecerei.
Antes de pegar a estrada, fomos até o centro da cidade tirar dinheiro num caixa eletrônico, pois descobrimos, na noite anterior, que o nosso cartão Cash Passaport era bandeira Mastercard e não Visa e que quase todos estabelecimentos comerciais só aceitavam o Visa e como nas outras viagens internacionais que fizemos, havíamos optado por não andar com dinheiro e usar Cash Passaport, mas com esse fato era prudente ter dinheiro em mãos. Eu já tinha ouvido falar que o Mastercard não tinha tinha a mesma aceitação do Visa, que era o que sempre levamos nas viagens internacionais. Contudo, percebemos poucos dias antes de viajar que o nosso estava vencido e tivemos que pegar outro na Casa de Câmbio, nisso não notamos a mudança da bandeira.
Local onde fizemos saque de dinheiro no caixa rápido.
A Plaza de Armas, praça principal de Puerto Maldonado.
Outra vista da Plaza de Armas.
Como as mulheres peruanas andam de moto.
Realizado o saque, fomos abastecer e pagar o seguro do carro. Contudo, em diversos postos que paramos o diesel estava em falta, não realizava o pagamento do seguro e nem os funcionários sabiam informar onde pagar. Já estávamos ficando preocupados, visto o avançar da hora, quando paramos num posto que o rapaz soube dar essa informação e ainda nos tranquilizou, afirmando que iríamos encontrar petróleo (como eles chamam diesel) nos postos da estrada, fora da cidade.
O rapaz explicou que o pagamento do seguro só era realizado em lojas da própria seguradora, a SOAT La Positiva, ou em bancos, que só abririam mais tarde. Então fomos até uma loja da seguradora que o rapaz indicou e conseguimos pagar. Feitos esses procedimentos necessários, nos tranquilizamos e prosseguimos a viagem, a essa altura já eram 9h37min.
No percurso fomos revivendo a sensação que tivemos em 2008, quando estivemos no Peru pela primeira vez e percorremos diversas cidades de ônibus comum interestadual, só que agora, dirigindo nosso próprio veículo, estávamos mais próximos da realidade local. Eu, particularmente, sou apaixonada por esse país, eles tem uma cultura muito enraizada neles e preservam seus costumes de forma bastante apaixonada. A sensação que tenho quando estou lá é de estar respirando cultura.
Nossa estrada agora passou a ser assim, lá vem os toc toc...
Uma das cidades peruanas que passamos. Não, isso não é um assentamento de posseiros, isso é mesmo uma cidade, no caso é a cidade de Santa Rosa.
Estão vendo a faixa branca e vermelha na traseira do veículo, ela também é reflexiva e descobrimos depois que já tínhamos saído do Peru que ela é obrigatória em todos os veículos. Engraçado que quando estávamos lá achamos interessante todo veículo estar essa faixa, mas nem nos atentamos de ser um item obrigatório.
Olha lá um restaurante e cebicheria.
Olha a feira...
Dentre as característica do Peru as que me chamam mais atenção são: há muito veículos toc toc por toda parte, quer seja no perímetro urbano, quer nas rodovias e esses veículos, em geral, não tem luzes traseira funcionado, o que dificulta vê-los na estrada; quando se entra no perímetro urbano há muita poeira espalhada pelo ar, devido ao intenso tráfego de pessoas e veículos em ruas que se alternam em terra, paralelo e asfalto; e em várias ruas da cidade há 'feiras' espalhadas pelas calçadas com venda de tudo o que se possa imaginar. Mas, o melhor de tudo é ver as mulheres trajadas com as roupas típicas peruanas (saia na altura do meio da perna, que parece que tem vários panos por baixo, pois ficam num formato de quase balão; meia calça por debaixo da saia; sapato fechado ou sandália baixa de couro preta; uma blusa de manga comprida de meia e uma blusa de manga curta por cima e muitas vezes ainda um casaco por cima; cabelos longos arrumados em duas tranças para trás e um chapéu, colorido, parecendo uma toalha enfeitada ou em um formato tipo Panamá, que mais parece um chapéu masculino. O que parece ser um traje para uma apresentação cultural, na verdade, é a roupa do dia a dia delas.
Mais feira, tem fruta, legume, verdura....
Dá para ver as placas indicando hostal? E os toc toc aguardando passageiros...
Estão vendo várias bandeiras penduradas? Vimos isso em todas as cidades, todas estavam enfeitadas devido à comemoração do Dia da Independência do Peru, similar ao nosso 7 de Setembro, que ocorreu no dia 28 de Julho.
Não, vocês não estão vendo nada demais, é comum ver cadeiras normais em cima dos veículos transportando pessoas é cômico, mas lá é assim...
Fomos curtindo cada local que passávamos e, não demorou muito, a estrada do Pacífico começou a subir a serra. Eram tantas curvas, de todos os gostos, abertas, extremamente fechada, inclinada, estreita, larga e, conforme subíamos, o clima ia ficando mais frio. Em alguns trechos a estrada estava cortada devido ao desmoronamento da própria estrada e estavam trabalhando na recuperação. A Estrada do Pacífico é de uma beleza de tirar o fôlego, inicia com a vegetação típica da floresta amazônica (tropical) e, conforme sobe, o cenário muda para estepes e pradarias andinas (vegetação rala, coberta por uma gramínea, tipo hera, típica de regiões frias). Há cachoeiras por diversas partes e existe água escorrendo pela encosta da serra, que deixa o cenário deslumbrante. São 300km de tirar o fôlego.
Subindo...
Em todas as curvas tem a placa indicando para buzinar (Toque Claxon).
Vegetação típica da floresta amazônica, não vimos mata fechada na transamazônica como vimos aqui na estrada do Pacífico.
Os rios no Peru são assim, com leito cheio de pedras, largos e aparentemente pouca água, mas quando é época chuvosa eles ficam com muita água que devido o terreno íngreme ela escorre com muita velocidade.
Todas as ponte tem a indicação do nome da ponte, da extensão e da carga que suporta.
Às 13h 56 min já estávamos na cidade de Quince Mil onde a altitude é de 1.800m, a estrada cada vez mais íngreme e cheia de curvas.
Olhem aí os carros com a faixa reflexiva na parte traseira e observem como há bandeiras do Peru (que são de pano e não de plástico) pendurada em toda casa e estabelecimento comercial.
Um hotel bem estruturado em meio a outras edificações em construção nas fotos acimas.
Leito do rio bastante pedregulhoso.
Griffo, ou Posto de gasolina como é chamado no Peru, na estrada.
Nessa parte o rio Madre de Dios está com muita água
Olha lá que ponte linda que vamos passar e veja a placa indicativa de possibilidade de desmoronamento.
Que paisagem!
Nessa parte da estrada ou você vai no caminho de Cusco ou segue para Puno, local dos famosos lagos andinos.
É difícil encontrar local de parada, pois a rodovia é estreita e não tem acostamento com largura suficiente para parar um veículo, mas encontramos um local que foi possível parar para apreciar uma das cachoeiras mais de perto e tirar fotos. Ao descer do carro sentimos que o frio já estava intenso, então resolvemos vestir os agasalhos adicionais, pois iria esfriar mais quando chegássemos no local mais alto previsto de 4.700m de altitude. Vesti também o agasalho do Pingo, ele adorou ficar quentinho. O local da parada era lindo, tiramos fotos e voltamos para continuar nosso trajeto.
Vejam que lindo, em vários trechos da estradas se vê a água escorrendo, aqui havia uma pequena cachoeira.
Vestimos os agasalhos quando voltamos para o carro e já estávamos quase congelando.
Nesse trecho ocorreu um desmoronamento e já estavam recuperando, havia muitas máquinas trabalhando, mas é difícil tirar foto, quando se vê, a curva já mudou o cenário.
A estrada é excelente e é regida sob concessão, portanto há pedágios para pagar no valor de 5,60 soles cada um, passamos por dois. Contudo, no segundo que passamos não pagamos, pois foi informado que naquele horário não havia cobrança, eram 14h.
Passamos por várias cidades que poderíamos ter almoçado, mas decidimos não parar para comer, optamos por gastar nosso tempo para apreciar a paisagem, parar para tirar fotos e curtir aquele momento. Também sabíamos que o trecho, apesar de não ser tão longo, teria que ser realizado com calma e em baixa velocidade devido a grande quantidade de curvas de 180°, com raio muito pequeno. Além disso, não conhecíamos o percurso, correr seria um risco, pois na maioria das curvas havia um penhasco, portanto nossa média de velocidade foi de 40km/h. Não costumamos viajar com comida no carro, mas tínhamos trazido castanha de caju de Fortaleza que deu para quebrar um galho quando a fome começou a apertar.
Cada curva uma paisagem de tirar o fôlego.
E haja bandeirinha espalhadas pelas cidades
E lá vão mais dois sentados em cadeiras comuns colocadas em cima da carroceria. Vejam a mulher peruana no traje típico com as tranças.
Rio Madre de Dios
E a rodovia é sempre assim, quase sem acostamento e com edificações próximo à estrada, por isso todo cuidado é pouco na direção.
Mulheres peruanas em seus trajes típicos, edificações em construção, rodovia sem acostamento.
Vejam a Estrada do Pacífico quantas curvas e a vegetação já passou para pradaria, típica dos andes.
Mais uma com roupa típica, vejam o chapéu, parede masculino, mas é feminino, saia, meia calça...
Esqueci de mencionar que elas carregam tudo nas costas, ou os próprios filhos ou mercadorias, muitas vezes são caros grandes, em geral são as mulheres que carregam grandes pesos.
A curva e a placa informando para não ultrapassar 20km/h.
No trecho tem alguns mirantes, então decidimos parar em um para tirar fotos. No local estava uma família de peruanos tomando cerveja e curtindo a paisagem. Duas crianças, assim que viram o Pingo, vieram ao nosso encontro e pediram para passar a mão nele. Como sempre, ele foi um Lord e deixou que elas o alisassem a vontade. Os peruanos simpatizaram conosco, ofereceram cerveja, agradecemos, mas dissemos que estávamos dirigindo e por isso não iríamos beber. Aí a senhora idosa disse que queria nos dar uma coisa. Começou a procurar nos bolsos de seu avental que estavam cheios (quase toda mulher no Peru usa um avental e uma das características é que tem três bolsos na frente e incrivelmente estão sempre cheios não sei de que). Ela procurava em um bolso, depois em outro e nada, até que resolveu tirar as coisas do bolso e finalmente encontrou o que queria e nos entregou dizendo: "São bolinhos de milho, bom para comer com café". Não sei se na nossa testa estava estampado que estávamos com fome, mas sei que aqueles bolinhos surgiram na hora exata, comemos sem café mesmo e achamos deliciosos. Finalmente pediram para tirar fotos conosco e depois da sessão de fotos nos despedimos e fomos.
Nós e a família de peruanos. Que pena a senhora tirou o avental para Sr fotografada, disse que não ficaria bem na foto com o avental.
Nem todos se vestem com roupas típicas.
O bolinho de milho que estava uma delícia. Quanto tempo será que aquele bolinho estava guardado naquele avental? Rsrsrsrsr
E lá vai ela carregando sua cria.
Lindo, lindo, lindo...
Outras características interessantes das cidades peruana são: toda casa tem pelo menos uma bandeira do Peru pendurada, chegamos a conclusão que vimos mais bandeira peruana nas casas que todas as que se vê do Brasil no dia 7 de setembro; e a sensação de que as cidades estão em pleno desenvolvimento, pois há muitas construções em andamento, umas com paredes levantadas, mas sem janela ou reboco, outras com tudo feito mas sem reboco, nem pintura, tudo isso em meio a construções grandes e bem estruturadas.
Passamos pelo ponto mais alto da estradas as 16h52min, é a cidade de Mahuayani (4.725m de altitude). Nesse ponto da estrada é possível ver as geleiras nas cordilheiras. Êxtase total, paramos o carro para fotografar e registrar o momento de extrema alegria. O termômetro do carro registrava 11°.
O ponto mais alto, 4.725m de altitude.
Que lindo, que lindo. Lembrando que a diferença de fuso horário é de 2h.
Laguinhos formados pelo degelo da neve.
Estão vendo a neve lá em cima.
Olha, é lá, é lá...
Voltar para meu agasalho e para o quentinho do carro porque lá fora está frrrriiiiioooo. Olha o Pingo de agasalho, ele está e cabula do.
Às 17h estávamos passando pela cidade de Tinki e ainda faltavam pouco mais de 100 km para chegarmos em Cusco. Se fosse uma estrada conhecida e reta logo chegaríamos, mas pelas condições peculiares da rodovia, percebemos que iríamos demorar a chegar. Já começava a escurecer, tínhamos saído de uma altitude de 300m em Puerto Maldonado e chegado em 4.725m em Mahuayani, então já sentíamos alguns sintomas da diferença de altitude, dentre eles ouvidos tapados e um pouco de dor de cabeça devido ao soroche, ou mal da altitude. Para quem não sabe, soroche é o nome que se dá ao mal estar que se sente devido à altitude. O ar fica mais rarefeito, dificultando a respiração, então a oxigenação no sangue fica reduzida e pode provocar alguns sintomas como: dor de cabeça, fadiga, náusea, tontura, falta de ar e coração palpitante. Ainda bem que só estávamos com dor na cabeça, só que de uma forma diferente, sentindo uma pressão, como se o cérebro quisesse sacar da cabeça.
Apesar disso, no momento essa sensação de mal estar ficou irrelevante quando comecei a ver as alpacas na estrada e comecei a vibrar de emoção e a fotografar, a maioria era branca, mas também tinha preta, marrom, mesclada de branco com marrom e preto com branco. A vontade que eu tinha era de descer do carro e ir passar a mão nelas, mas sabia que iriam correr se eu tentasse chegar perto. Outra coisa interessante que vimos demais na estrada foi cachorros na beira da estrada, como se estivessem esperando seu dono chegar de algum lugar, cada um mais lindo que o outro, grandes e peludos.
Olha lá as alpacas, aí que liiiiiindooo, estão vendo?
Olha elas aí, viram agora?
Ela olhou para mim, ai que vontade de apertar, de carregar...
O cão peludo esperando seu dono chegar.
Quantas alpacas de todas as cores.
Todas branquinhas.
Mulheres peruanas com seus chapéus que parecem uma toalha enfeitada e as construções que misturam vidro com alvenaria de tijolo sem reboco.
Mais mulheres peruanas.
A medida que a tarde foi caindo e escurecendo já não era mais possível apreciar a estrada, mas não nos preocupamos, pois na volta passaríamos por aquele trecho no início da manhã. Agora era hora de redobrar a atenção para as curvas e o trânsito que se tornava cada vez mais intenso. Já estávamos cansados e desejosos de chegar no hotel.
Chegamos em Cusco às 20h, a cidade estava lotada de veículos e de pessoas trafegando nas ruas estreitas. O frio aumentou e começamos a torcer para chegar logo ao hotel. Agradeci muito minha conexão 3G da Claro estar funcionando, pois o chip da Movistar que eu havia comprado em Puerto Maldonado não dava nenhum sinal. Ainda bem que já estávamos com a rota traçada no Google Maps para o endereço do hotel que eu havia identificado previamente que aceitava cachorro, mas não tinha reservado pois não dava para prever o dia exato que chegaríamos. Então era torcer para ter vaga, mas estávamos apreensivos, pois os dois grupos que encontramos haviam comentado que não encontraram hospedagem. Eu ia orientando o Luiz e ele seguia com a atenção redobrada no transito de carros, motos, tuc tuc e pessoas. Eu torcia para chegar no hotel e ter vaga para nós e ele para chegar num lugar e parar o carro, pois estava exausto, com os olhos ardendo e a cabeça doendo.
Finalmente chegamos no hotel, tive que descer e ir rápido ver se havia vaga , pois a rua era muito estreita e só cabia um carro e o hotel não tinha estacionamento. Então caso viesse algum carro para passar na rua não teria como. O Luiz havia falado que não poderia dar uma volta, pois se saísse dali talvez não acertasse voltar sem meu auxílio com o GPS, devido a irregularidade dos quarteirões e a dor de cabeça que sentia. Então, eu fui mais rápido que pude, quando voltei já havia carros atrás do nosso esperando sairmos para passar e, o pior, voltei com a notícia de que não havia vaga no hotel.
Fiquei aflita, pois como encontrar hotel com vaga, que aceitasse cachorro naquela hora da noite se minha conexão de internet estava fraca e não tinha nenhum sinal de telefone para ligar? Eu disse: "Luiz e agora o que vamos fazer?" e ele "Eu não posso ficar aqui, tenho que arrumar um lugar para estacionar o carro, aí pensamos o que fazer." Então eu fui pesquisar na Internet os hotéis e ele andou em torno de 400m e viu um lugar, na mesma rua, que dava para parar o carro sem atrapalhar o trânsito. Parou e disse: "Veja aí com alguém onde tem um hotel." Respondi "Ver com quem Luiz, é melhor eu ficar pesquisando na internet." Fiquei no carro e ele saiu e foi tentar obter alguma informação com pessoas que estavam transitando pela rua. Os acontecimentos seguintes foram o ápice da certeza que Deus estava nos protegendo e guiando, pois foi quase inacreditável o que aconteceu.
Assim que ele saiu do carro, perguntou onde havia um hotel ali por perto para a primeira pessoa que encontrou, sendo informado que havia um hotel do outro lado da rua, em frente de onde paramos o carro. Não havia nenhuma placa. Ele atravessou a rua olhou para um lado, para outro e não conseguia identificar onde era o local, pois não havia nenhuma porta aberta. Então, a mesma pessoa que prestou a informação falou alto que a porta de entrada era uma grade e que na parede havia uma campainha. Ele conseguiu ver e tocou a campainha. Uma mulher veio atender e informou que tinha apenas um quarto de casal. Ele veio até o carro e falou que tinha encontrado um lugar, mas preferia que eu fosse conversar com a mulher e ver o quarto. Incrédula, questionei se ele havia perguntado sobre a aceitação do Pingo. Mas ele não havia falado, pois preferiu que eu tratasse do detalhe.
Fui, mas sem expectativa dela aceitar o Pingo, pedi para ver o quarto. Subimos uma escada e cada degrau que subia eu achava o local estranho, mas ficava na esperança de encontrar um local agradável. Quando ela abriu a porta do quarto, eu não acreditava no que estava vendo. Era um lugar maravilhoso para dormir, pequeno, mas com uma cama de casal, uma de solteiro, geladeira, carpete, banheiro, televisão, lençóis e toalhas de banho branquinhos, tudo limpo e cheiroso, mais do que eu sonhava. Perguntei o preço da diária. Ela informou que era U$S33,00, valor bem inferior aos que eu havia pesquisado na internet antes de viajar. Ela ainda informou que havia estacionamento em frente ao custo de U$S 3,00 a diária. Então com toda coragem e, juro, esperando resposta negativa, mas querendo do fundo do coração uma afirmativa, falei. "Senhora, eu viajo com meu cachorrinho, tem alguma restrição a animais.?" Ela respondeu perguntando "Ele é pequeno?" Eu mostrei com as mãos mais ou menos o tamanho dele. Acho que meus olhos diziam: "Por favor, diz que aceita." Ela disse "Se ele tiver a própria cama e não fizer as necessidades no quarto, pode ficar". Quase pulo no pescoço da mulher para dar mil beijos de agradecimentos.
Voltei para o carro e disse ao Luiz que tinha dado certo e que poderíamos ficar e ainda teria local para colocar o carro. Não sei se eu ou ele era o mais feliz e nesse momento agradecemos a Deus pela oportunidade concedida. Pegamos as malas e fomos, eu entrei no quarto e deitei na cama, estava com muita dor de cabeça e precisava melhorar um pouco. O Luiz, vendo meu estado, desceu e voltou trazendo folhas de Coca para mastigarmos. É impressionante o efeito, pois o alívio foi quase que imediato. Para conhecimento, é comum no Peru se usar a folha de Coca (planta usada para fazer a cocaína) para aliviar o soroche. Eles simplesmente mastigam a folha ou tomam o chá. A folha em seu estado natural não tem o efeito produzido pela cocaína. Eu já tinha constatado a eficácia do efeito da planta quando estive no Peru em 2008. Na época eu tomei o chá antes de sentir qualquer sintoma e não senti nada. Mas desta vez pude constatar a real eficácia da folha que produz um efeito vasodilatador, melhorando a oxigenação do sangue e minimizando o 'mal das alturas'.
Depois de melhorar um pouco, fomos providenciar algo para comer, estávamos famintos. Desci e perguntei se havia alguma opção de tele entrega, pois não tínhamos ânimo para sair e procurar um local para comer. O filho da dona do hotel informou que havia pizza e pólo com papas (frango com batatas) tradicional no Peru. Decidimos comer pólo com papas. Quando o pedido chegou eles gentilmente prepararam uma mesa no local do cafe da manhã para comermos e ainda disseram para trazermos o Pingo. E assim terminamos mais um dia, alimentados, com local para dormir e com a certeza que os anjos e santos nos acompanhavam.
E assim terminou nosso dia, em um quarto quentinho, cheiroso e deitados bem agasalhados. Ah, a manta quentinha do Pingo também estava na mala dele e ele adorou ficar enroladinho nela.
Só sobrou uma patinha do lado de fora da manta.
DISTÂNCIA PERCORRIDA NO DIA 465 km em estrada asfaltada.
No caminho passamos pelas cidades de São Bernardo, Santa Rosa, Villa Santiago, Mazuco, Quince Mil, Mahuayani, Tinki e Urcos.
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